Felipe Lucas Fagundes

MIGRAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE MADEIRA NA REGIÃO DO VELHO CHAPECÓ

 

 

Introdução

 

O Trabalho tem como objetivo compreender e analisar diferentes pontos de diferentes aspectos da colonização de Chapecó. Assim compreendermos a diversidade cultural da área.

 

Temos como um dos principais objetos de analise a obra “Balseiro do Rio Uruguai”, poema esse composto pelo poeta Barbosa Lessa e interpretada por Cenair Maicca. Usaremos uma relação entre analise das estrofes e versos com uma correlação entre a colonização e a extração de madeira da área.

 

A importância da formulação deste texto tem-se atrelado a identidade de uma região e uma obra que em vozes distintas, ficou conhecida e boa parte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sendo assim existe uma necessidade intrínseca de trazermos a pauta a tona e divulgarmos o momento histórico.

 

Colonizações de Chapecó

 

Com as necessidades de terras, já escassas, os descendentes dos imigrantes europeus, que se instalaram no rio grande do sul, procuravam novas colônias, para auxiliar sua subsistência. Porem com cada vez menos terras disponíveis no estado, acredita-se que a terceira geração dos colonos teve que se mover para outros lugares.

 

[...] seus filhos estabeleceram-se nas Colônias Novas, em regiões cada vez mais setentrionais, abertas devido ao forte processo de expansão demográfico. Porém, grande parte da terceira geração colonial não encontrou terras disponíveis no Estado que acolhera seus avós e seus pais. (VICENZI, 2006, p.304).

 

Com a falta de terras, para a colonização e produção agrícola, disponíveis no estado, houve uma grande necessidade de procurar novas terras. A alternativa que foi encontrada aos gaúchos, descendentes de europeus, foi à travessia do rio Uruguai e a instalação de colônias no estado visinho, “Com o esgotamento das terras postas à disposição da imigração no Rio Grande do Sul, a frente de expansão colonial agrícola sul rio-grandense atravessou o rio Uruguai, para instalar-se em Santa Catarina.” (VICENZI, 2006, p.304).

 

Já no ano de 1918, Ernesto Francisco Bertaso, foi um dos principais nomes na colonização da região de Chapecó. Com o trabalho colonial, podem-se trazer pessoas e ajudar em tal colonização.

 

“Se o grande protagonista do espetáculo em questão foi o trabalho colonial, um dos seus principais orquestradores foi a Companhia Colonizadora Bertaso, sediada em Chapecó, no oeste catarinense. A empresa colonizadora Ernesto Francisco Bertaso iniciou suas atividades no município de Chapecó, em 1918.” (VICENZI, 2006, p.304).

 

É dada também a colonizadora Bertaso a responsabilidade do ato de eliminação gradativa do indígena e da fauna natural. Isso possibilitou a chegada dos camponeses gaúchos permitiu a extração e comércio de madeira e o inicio do cultivo da agricultura na localidade.

 

“Portanto, a Colonizadora Bertaso também foi uma das responsáveis pela realização do processo inicial de “limpeza humana e vegetal” que preparou a chegada do colono. Isto é, expulsou gradativamente os nativos e caboclos para permitir a entrada de camponeses gaúchos e empreendeu a extração de madeiras, que tornou mais ágil o desenvolvimento da agricultura comercial.” (VICENZI, 2006, p.309).

 

A colonização da velha Chapecó, localizada no estado de santa Catarina tem uma relação direta com a exploração da região. Sendo um dos principais métodos de exploração da localidade, a coleta de madeiras, sendo isso uma exploração dos recursos naturais da região. “O tema representa o importante momento do desenvolvimento oestino com a fixação da atividade econômica: a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais (madeira).” (BELLANI, 1991, p.III).

 

Tais madeiras eram transportadas usando a força natural do homem, ou seja, a força física e a forças das correntes do próprio Rio Uruguai. Tal transporte era feito em formato de balsas, tal método será tratado mais a frente no texto, “o emprego da força física do homem na exploração das matas, a via aquática do Rio Uruguai e as "Balsas", como meio de transporte de escoamento da produção.” (BELLANI, 1991, p.1).

 

Assim vemos um pouco de como se deu a ocupação do oeste catarinense, e os principais motivos da ida dos imigrantes. Observa-se também o inicio da exploração das madeiras naturais na região, como forma de renda aos moradores da localidade.

 

Balseiro do rio Uruguai

 

Com tudo é importante ressaltarmos os três principais difusores dessa bela obra de arte, sendo o primeiro Barbosa Lessa, o compositor, seguido de Cenair maicá e por ultimo Noel Guarany.

 

A composição de tal poema tem seu autor sendo Barbosa Lessa e em muitos pontos trás um passado já esquecido por muitos e revive momentos já esquecidos, “A composição do gaucho Barbosa Lessa faz muitos homens do oeste catarinense viajar no passado.” (DIARIO GAÚCHO).

 

Sendo um poeta muito reconhecido, teve uma carreira super aclamada, porem trágica por contas, com a sua morte prematura. Cenair Maica vem de uma família de artistas sendo o mais reconhecido e conhecido, sendo por muitos considerados um dos poetas mais importantes do Sul do Rio Grande do Sul.

 

“Cenair Maicá foi um cantor, músico e compositor, considerado como um dos mais importantes artistas do sul do Brasil. Oriundo de uma família de músicos e intérpretes, sendo o mais consagrado deles, teve uma trajetória meteórica, uma obra de poucos discos em virtude de sua morte prematura, mas de fundamental importância no cenário poético-musical do Rio Grande do Sul.” (O Mensageiro, 2020).

 

O artista teve a oportunidade de gravar com os principais músicos e poetas da musica gaucha, reconhecidos até hoje, como por exemplo, os missioneiros, Jaime Caetano Braun e Noel Guarany. Sozinho conseguiu publicar cinco discos, sendo eles demonstrativos das obras do poeta.

 

“Gravou com Noel Guarany o compacto Filosofia de Gaudério e o CD Troncos Missioneiros, com Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Pedro Ortaça. Individualmente, registrou mais cinco discos, dentre os quais, Canto dos Livres, o mais consagrado de seus trabalhos, no qual pode expressar sua maturidade artística.” (O Mensageiro, 2020).

 

Dentre tudo foi um músico que cantava da natureza, e da sociedade que ela envolvia, trazia pautas ecológicas tratando das águas e das matas das regiões missioneiras, “Cenair Maicá foi cantor das águas, dos rios, das matas e das missões. Suas obras são recheadas de signos ecológicos e sociais.” (O Mensageiro, 2020).

 

Contudo uma das obras mais conhecidas interpretadas por ele, e posteriormente, por Noel Guarany, foi balseiro no rio Uruguai. Noel tinha um apreço pela composição da musica por ter sido balseiro em sua vida.

 

Noel Guarany, em toda a sua vida teve diferentes empregos, sendo ele descendente de italianos e guaranis foi em sua vida, balseiro. Conhecendo assim por dentro o que os poemas de Barbossa Lessa relatavam.

 

“Noel Guarany, nascido em 1941 (faleceu em Santa Maria, em 1998). Descendente de guaranis e italianos. Trabalhou como balseiro, lenhador, tarefeiro de mate e também foi radialista.” (BARBOSA, 2012, p.172).

 

Trabalharemos a seguir com a composição de Lessa, intitulada de Balseiro do Rio Uruguai.  Tal obra relata um momento histórico, que foi o transporte de madeira, do oeste de santa Catarina até entrar na argentina, através do rio Uruguai.  Onde tais homens tiravam seu sustento e de suas famílias com tal exportação.

 

[...]reproduz em verso e melodia, um pouquinho da história de vida desses importantes personagens da história gaúcha, do Oeste de Santa Catarina e também da Argentina, enfim, de trabalhadores que tinham na madeira o seu sustento e nas corredeiras do rio fizeram a sua vida” (SARMENTO, 2020).

 

Em suas primeiras linhas e refrão temos escrito tais palavras “Oba, viva veio à enchente, O Uruguai transbordou, Vai dar serviço prá gente, Vou soltar minha balsa no rio, Vou rever maravilhas, Que ninguém descobriu”. Vemos que a enchente, para quem trabalhou na época, era esperança de trabalho e de sustento, como o poeta canta, “Até para o cancioneiro popular, a cheia era a esperança de trabalho e de vida” (BELLANI, 1988, p.125).

 

Podemos perceber que, em épocas de chuva, onde havia grandes enchentes, um rio que geralmente é de difícil navegação, tornava-se viável tais viagens, assim possibilitando o transporte de madeiras por tais balsas, “As chuvas, na região, aumentavam o volume de água. Verificando-se enchente, o rio Uruguai (mesmo não sendo navegável) permitia o transporte da madeira de balsa.” (BELLANI, 2014, p. 125).

 

Seguindo na obra temos os próximos versos “Amanhã eu vou embora pros rumo de Uruguaiana, Vou levando na minha balsa cedro, angico e canjarana”. A cidade de Uruguaiana era um dos centros que servia como recebimento de produto, e que por sua vez demarcava que os balseiros, haviam percorrido em media, 500 quilômetros.

 

“Quando o rio apresenta as condições de lugar e madeira a sua chegada aos centros de recebimento do produto (Urugauiana, Itaqui, Barra do Quaraí e Passo de los Libres) significava, que um percurso de mais de 500 km tinha sido atingido.” (BELLANI, 1988, p.127).

 

As madeiras eram transformadas em tabuas e toras para o transporte e em sua grande maioria, sendo madeiras silvestres, como o cedro e outras madeiras nobres, “As madeiras, na forma de tábuas ou de toras, eram oriundas de pinos ou madeira de lei, como cedro, louro, pinheiro, canela e outros de boa qualidade, abundantes nas matas da região.” (RADIN, 2018, p. 22). Tais tabuas eram e toras eram transportadas em formato de balsas, fixas entre si, sendo assim formavam o transporte até o fim de tal jornada.

 

“As balsas eram composições de madeira, aglomerados de troncos, toras ou tábuas serradas, armadas para transportar as madeiras oriundas do Oeste catarinense, através do rio Uruguai, até o principal porto de destino, que era São Borja, no Rio Grande do Sul [...]” (RADIN, 2018, p. 22).

 

Seguindo os versos da mesma estrofe temos “Quando chegar em São Borja, dou um pulo a Santo Tomé, Só pra ver as correntinas e prá bailar um chamamé”. Como já visto anteriormente, em tal texto, São Borja era dos fins da jornada, sendo um dos portos de venda da madeira, pois a cidade faz fronteira com Santo Tomé, localizada na região de corrientes, território argentino. “e venda nos portos da Argentina e Uruguai: Santo Tomé, Paso de los Libres e Itaqui.” (BELLANI, 1988, p.118).

 

O Chmamé é um ritmo musical, hispo-americano, que por muitos é conhecido como Polca, “Hasta he observado que un mismo tema es llamado Polca por un músico y Chamamé por el vecino”(VEGA, 1998, p. 262 apud ALVES, 2007, p.14). De origem peruana, chega à Argentina na região de Corrientes e afunila-se no ritmo conhecido hoje em dia.

 

“Esta cultura “hispano-peruana” formada no Peru origina os primeiros ritmos da América do Sul, o Yaraví e o Triste. Chegam ao Paraguai através das rotas comercias e segundo Bugallo, irão originar em Corrientes o Chamamé.” (ALVES, 2007, p.14).

 

Já no inicio da sua ultima estro, antes da ultima repetição do refrão, temos os seguintes versos, “Ao chegar ao Salto Grande me despeço deste mundo, Rezo a Deus e a São Miguel e solto a balsa lá no fundo, Quem se escapa deste golpe, chega salvo na Argentina, Mas duvido que se escape do olhar das correntinas”.

 

Tal trecho traz uma preocupação do balseiro ao chegar ao trecho conhecido como salto grande, onde havia um volume muito grande de água que impedia uma viagem segura e tranqüila, trazendo a realidade que ao transpassar tal obstáculo a viagem tornava-se mais tranqüila, podemos ver com a fala de Campos no texto de Eli Maria Bellani, “intitulado como Balsas e balseiros no Rio Uruguai (1930-1950)”, na pagina 127.

 

“...depois vem Salto Grande que é muito perigoso. Ele desmancha muito as balsas. Lá o pessoal não pode se segurar em cima da balsa e vai correndo. São dezesseis km com uma caída e uma velocidade monstra de água.”(CAMPOS apud BELLANI, 1988, p.127).

 

Com essa breve analise, percebemos que por trás de todo o verso, temos a trajetória de trabalho, de pessoas que sustentaram suas famílias com a exportação de madeiras, através das balsas, pelo Rio Uruguai.

 

Conclusão

 

Com diferentes aspectos e necessidades a colonização da região do velho Chapecó, foi dada principalmente por gaúchos e descendentes de imigrantes. Os quais tinham o objetivo de ter uma nova oportunidade de vida.

 

Tal evento possibilitou que muitas famílias vivessem de em uma nova região e em busca de uma qualidade de vida melhor. Muitas recorreram ao transporte de madeiras e venda das mesmas na região de corrientes na argentina.

 

Tendo o estudo e a compreensão da composição da obra de Barbossa, vemos e em parte estudamos como era a vida e como se dava a subsistência de muitas pessoas naquele momento histórico. Assim vimos os medos dos trabalhadores, a dificuldade e no final o alivio por terem concretizado mais uma viagem com sucesso.

 

Contudo vemos no decorrer desse texto, as dificuldades e um pedaço do processo de colonização de uma das zonas de fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E em pontos a mescla das culturas do gaúcho brasileiro e argentino vendo em muitos pontos da música uma mescla entre os dois povos.

 

Referências biográficas

 

Felipe Lucas Fagundes, estudante do curso de História da Universidade da região da campanha (URCAMP).

 

Referências bibliográficas

 

AlVES. Felipe. MILONGA, CHAMAMÉ, CHIMARRITA E VANEIRA: ORIGENS, INSERÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL E OS PRINCÍPIOS DE EXECUÇÃO AO CONTRABAIXO. Santa Maria. UFSM, 2007.

 

BELLANI, Eli Maria. Balsas e balseiros no Rio Uruguai (1930-1950). CEOM, v. 3, n.4. 1988.

 

BELLANI, Elia Maria. MADEIRA, BALSAS E BALSEIROS NO RIO URUGUAI O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DO VELHO MUNICIPIO DE CHAPECO (1917/1950). Florianopolis. 1991.

 

História: Os balseiros do Oeste - DI Regional - Portal de Notícias de Chapecó e Região. Disponível em: <https://diregional.com.br/diario-do-iguacu/variedades/historia-os-balseiros-do-oeste>. Acesso em: 6 abr. 2021.

 

IURI DANIEL BARBOSA. Os Troncos Missioneiros e a construção da identidade missioneira a partir da música. UFRGS.  v. 6, n. 2, p. 171–177, 2012.

 

MÁRCIA SARMENTO. Balseiro do rio Uruguai. Disponível em: <https://www.folhadonoroeste.com.br/noticias/balseiro-do-rio-uruguai/>. Acesso em: 25 fev. 2021.

 

RADIN, J. C.; CORAZZA, G. Balsas e balseiros. Dicionário histórico-social do Oeste catarinense, p. 22–26, 2018.

‌ Rodovia Cenair Maicá - Jornal e Revista O Mensageiro. Disponível em: <http://jom.com.br/mobilidade-urbana/rodovia-cenair-maica.html>. Acesso em: 25 fev. 2021.

VICENZI, Renilda. Colonizadora Bertaso e a (des) ocupação no Oeste Catarinense. Cadernos do CEOM - Ano 19, n. 25. 2006.

 

2 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.