Cibele Aparecida Viana e Marcone de Souza Guedes

“OS NOSSOS SONS DE CADA DIA”: A PRESENÇA DAS SONORIDADES EM NOSSO COTIDIANO E SUA INTER-RELAÇÃO NA PRODUÇÃO DE MEMÓRIAS

  

Introdução

 

A existência humana é perpassada pelos sentidos, cada um deles apresenta uma particularidade além de exercer uma importante relação com a forma como nos relacionamos com o mundo que nos cerca. Aqui, interessa nos determos, particularmente, sobre como os diversos sons que estão presentes diariamente na sociedade interagem entre si e nos influenciam no tempo e espaço que nos rodeiam. 

 

A linguagem, a mentalidade, o imaginário, a memória, o sensível, e a existência de uma série de normas e códigos que são perceptíveis através da escuta evidenciam que os sons costumam controlar, sistematizar e atribuir sentido a determinados padrões de comportamento e convivência entre os indivíduos. Escutar, então, modifica o imaginário social e está repleto de historicidade, os indivíduos têm diferentes percepções sensitivas que são determinadas pela realidade sensorial e também de acordo com imaginário de seu tempo. O sonoro tem também um caráter afetivo pois “Às sensibilidades compete esta espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com as sensações, com o emocional, com a subjetividade, com os valores e os sentimentos, que obedecem a outras lógicas e princípios que não os racionais”. (PESAVENTO, 2005, p.1).

 

Eleger o estudo dos sons para um determinado grupo é engendrar novas abordagens no campo dos estudos historiográficos, é destacar o som como objeto epistemológico da história, inserido em um cotidiano no qual é possível perceber a memória, o passado e a intensidade do presente em uma determinada localidade como categorias interdependentes. A investigação das sonoridades neste artigo tem uma intima ligação com o Projeto “Cartografias Histórico- Sensoriais de Bento, Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira” da Chamada Pública FAPEMIG 09/2018, relativa ao financiamento de projetos de pesquisa aplicada voltados ao desenvolvimento e recuperação das áreas impactadas pela queda da Barragem. Os recursos destinados a esta Chamada foram previstos no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado na Justiça pela Samarco. O projeto elenca a investigação das percepções e sentidos acerca do espaço e dos aspectos relativos às identidades dos grupos que compartilhavam uma vida em comum em uma comunidade que foi drasticamente destruída pela tragédia do rompimento da barragem de Fundão em Mariana-MG.

 

Embora o ruído ensurdecedor da lama interrompeu as trajetórias dos moradores destas localidades e lhes impôs uma nova reconfiguração ao modo de vida, destacamos que as lembranças são um elemento importante para estas populações.  Os sons estão entre os elementos desencadeadores da memória pois possibilitam perceber o meio e influenciam a maneira como interagimos nele:

 

“É precisamente a percepção histórica e social ampla da indissociabilidade   entre o que se ouve e o que se pratica – som e ação –, que permite que as manifestações sonoras sejam entendidas como patrimônio. O som, segundo Ingold, influencia profundamente a forma como experenciamos os lugares e a sensação de que eles nos pertencem, fortalecendo o sentido de comunidade”. (PISTRICK; ISNART, 2013 apud: MENEGUELLO, Cristina, 2017, p.30).

 

Investigaremos a presença das sonoridades no cotidiano dos sujeitos e como essa ocorrência se relaciona com a constituição de memórias individuais e coletivas no cotidiano desses indivíduos. Essa reflexão será pautada em duas vertentes historiográficas específicas: a história ambiental e o ensino de história. Desse modo, partimos da premissa que as sonoridades contribuem para uma interpretação histórica peculiar uma vez que, dentre outros aspectos, conseguem articular história e ambiente.

 

Nessa perspectiva, reconhecemos a potencialidade do uso destas sonoridades produzidas pelo ser humano e pela natureza para o ensino de história. Contudo, como transpor essa experiência para o âmbito do ensino de história? Postulamos que uma alternativa seria através de propostas pedagógicas que tenham como tema central as sonoridades diretamente ligadas à região com a qual os alunos interagem. Nessas atividades os alunos não serão apenas receptores passivos de uma intervenção pedagógica alheia as suas vivências pessoais e comunitárias, mas protagonistas dessa tarefa. Essa participação efetiva   é um elemento importante na configuração da proposta pois visa fazer o aluno sujeito do conhecimento.

 

Essa leitura pode vir a ser uma grande contribuição na esfera do ensino – mais propriamente de história – principalmente se ela for articulada a uma outra discussão que também é muito relevante: a de patrimônio. A noção aqui elencada transcende a exclusividade da compreensão dos agentes institucionais e alcança a subjetividade daquelas sujeitos que tiveram suas respectivas trajetórias biográficas marcadas, positiva ou negativamente, pelo elemento estabelecido como patrimônio. As questões relacionadas à Memória e à História, estão diretamente vinculadas a experiência da comunidade e ao cotidiano dos estudantes. O sentido de pertencimento vai se instalando à medida que os estudantes forem reconhecendo um passado construído pelo ambiente que os cercam e pelas pessoas que chegaram naquele espaço antes deles – o patrimônio histórico-cultural e ambiental local. Segundo Halbwachs (2006), a memória passa a existir na medida em que laços afetivos criam um sentimento de pertencimento a determinado ambiente e ao grupo. Para Pollak (1989), o sentimento de pertencimento e sentido social da memória dos grupos contribui para o estabelecimento de uma identidade, a qual também se liga aos espaços – lugares e objetos presentes na memória.

 

As sonoridades no processo histórico

 

Sons e ruídos estão impregnados no nosso cotidiano, mas a maioria das vezes ignoramos as formas como eles permeiam nosso dia a dia. Eles nos acompanham constantemente “compondo” em nossas vidas uma trilha sonora aleatória, manifestando-se sem distinção nas experiências individuais ou coletiva.

 

“[...] Enquanto experiência do mundo em seu caráter intrinsecamente ondulatório, o som projeta o limiar do sentido na medida da sua estabilidade e instabilidade relativas. Esse sentido é vazado de historicidade - não há nenhuma medida absoluta para o grau de estabilidade e instabilidade do som, que é sempre produção e interpretação das culturas”. (WISNIK, 2011, p. 30-31).

 

Sobre as sonoridades, é importante recordar, inicialmente, que os estudos acadêmicos a respeito dessa temática são ainda bastante recentes (CAMARA; BUSCACIO; BUARQUE, 2021, p. 10). Desse modo, utilizaremos, como definição de sonoridades, o entendimento de que elas são “[...] uma imbricação de significados histórico-culturais aos sons produzidos-escutados no decorrer da existência social” (Ibidem). À vista disso, pode-se depreender, a partir da presente interpretação, que esta instância abarca uma série de elementos que propiciam ao campo uma configuração demasiadamente diversa. Segundo Guilherme Augusto Soares de Castro,

 

“[...] Sonoridade vem, portanto, de um jogo sistêmico entre suas componentes, que ora podem ser mais importantes e referenciadas por suas questões físico-perceptivas, ora podem ser mais importantes por suas considerações simbólicas e semióticas, variando conforme for a situação de experiência e prática” (CASTRO, 2015, p. 34).

 

Nesta mesma perspectiva, chama a atenção a pluralidade de sons que integralizam o respectivo termo, situação que nos leva a concluir que “[...] o homem está mergulhado no mundo da sonoridade. Há sons por toda parte” (LACERDA, 2009, p. 88). Ademais, outra habilidade associada às sonoridades é a capacidade atuadora e até mesmo mobilizadora das subjetividades e coletividades dos indivíduos. Por conta disso, compreende-se que

 

“[...] as sonoridades consistem em elemento potencializador – e performatizador - de relações e saberes diferenciados. Elas tanto podem fortalecer sistemas hierárquicos e até excludentes, como, por sua fluidez acústica, que tende a escapar a capturas da ordem social, podem propiciar críticas e subversões” (CAMARA; BUSCACIO; BUARQUE, 2021, p. 11).

 

Enfatizar o caráter potencializador/performatizador das sonoridades se revela de suma importância para as reflexões que propomos uma vez que elas possuem intrínseca relação com os trabalhos realizados sobre as experiências histórico-sonoras relacionadas ao crime ambiental ocorrido na barragem de Fundão. Desse modo, a enxurrada de lama soterrou, por onde passou, vidas, ecossistemas, histórias, patrimônios e uma parcela de sonoridades existentes nas espacialidades atingidas. Todas as grandes tragédia levam consigo uma parte da história e tendemos a destacar somente as perdas de fontes materiais, mas aqui entendemos que o sonoro pode acionar uma elementos importantes associados às comunidades atingidas:

“[...] o estudo de seu ecoar nessa localidade em diferentes períodos históricos possa contribuir para favorecer uma reconfiguração dos vínculos identitários dos moradores com as espacialidade onde residiam ou conviviam, mediante seu acionamento como memória suscitadora de novas experiências a partir do que foi vivido/sofrido/sonhado” (CAMARA; BUSCACIO; BUARQUE, 2021, p. 13).

 

Assim sendo, a composição diversa e dinâmica das sonoridades, inter-relacionada com as distintas situações ocorridas nos contextos sócio-históricos-culturais de cada indivíduo, ainda que traumáticas, podem propiciar um movimento de articulação e ressignificação das memórias, vínculos e afetividades com os respectivos ambientes e experiências ocorridas durante suas jornadas biográficas. Ou seja, o ambiente é condição de produção das sonoridades e, simultaneamente, pode ter suas peculiaridades potencializadas ou ainda performatizadas pelas mesmas. 

 

Não podemos fragmentar a relação entre o espaço e a memória coletiva pois esta possui um caráter múltiplo e se constitui como uma relação importante no processo de entendimento acerca da memória sonora a partir da perspectiva das sensibilidades; existe a memória, constituída por memórias individuais e coletivas, que constituem o conjunto que integra a realidade e a experiência vivida; existem espaços de memória, e esses espaços são compartilhados pelo grupo e podem ser tanto mentais, quanto espaços físicos; em ambos perduram aspectos  das experiência humana e do passado. Essas permanências podem ser acionadas em sua inter-relação com os ambientes sonoros que marcam nossa trajetória  e se constituem como elementos sensíveis do passado que nos permitem conhecer as particularidades presentes no indivíduo ou em um grupo de pessoas, pois estas desempenham uma importante função social  a medida que estão presentes constantemente, mesmo que de forma imperceptível na existência da história da humanidade e possuem particularidades que lhe são próprias de acordo com o espaço em que são vivenciados.

 

Potencialidades sonoras no âmbito do ensino de História

 

A questão ambiental ainda é um tema incipiente no ensino de História, apesar da relação homem-ambiente ser uma variável constante na existência humana com influência de um sobre o outro em diferentes graus ao longo dos séculos. Dentro deste contexto de discussões é importante salientar que a experiência humana não se desenvolveu sem restrições naturais, as quais ou tiveram que se adaptar ou procurar meios que tornassem o meio ambiente favorável à sua sobrevivência.

 

Traçar estratégias pedagógicas que articulem a temática das sonoridades com a dimensão ecológica contemporânea de modo que seja possível aplicá-las no seguimento escolar não é uma tarefa fácil, apesar de que esta prática, paulatinamente, venha crescendo e adquirindo novas conotações. No entanto, entendemos que embora estabelecer diálogos entre as duas vertentes explicitadas seja importante, é necessário transcender essa lógica da mera interação e instituir uma efetiva cooperação entre os dois campos fazendo com que tais sonoridades potencializem o processo de aprendizagem histórico.

 

Neste processo, Cecília Cavalieri França afirma que

“Não se trata de subjugarmos a educação musical (uma vez mais) ao utilitarismo, selecionando “musiquinhas” de temática ecológica para servirmos a outras disciplinas. É preciso nos engajar verdadeiramente, como as demais áreas do conhecimento, em um projeto educacional comprometido com a formação integral da criança (FRANÇA, 2011, p. 32)”.

 

Esta atitude se revela ainda mais complexa, no que diz respeito ao ensino de história, pois além das dificuldades em sistematizar e dinamizar essa cooperação entre meio ambiente e sonoridades, há ainda obstáculos a serem superados no tocante a inserção das temáticas ambientais nas aulas da referida disciplina:

 

“Um grande desafio, portanto, é inserir de forma crítica e construtiva, a natureza nas aulas de História. Isso passa pela formação de professores, pela incorporação do tema nos livros didáticos e pela melhoria estrutural que possa dar condições aos professores de desenvolverem o tema nas suas classes” (CARVALHO; COSTA, 2016, p. 60).

 

À vista disto, convém lembrar que o enfoque da educação ambiental pode ser mapeado em distintos documentos, como, por exemplo a Constituição Federal (1988), as Diretrizes Curriculares Nacionais (2012). Contudo, apesar das proposições apresentadas nestes e em outros documentos, o que se percebe é que, em sua grande maioria, a realidade da educação básica destoa profundamente das exigências supracitadas. Na verdade, antagonicamente,

 

“[...] fica claro que as políticas educacionais estão coniventes com as políticas neoliberais que enfatizam seu papel social, reproduzindo a discussão ambiental sem aprofundamento das questões econômicas, políticas, culturais, sociais ou mesmo do conhecimento específico que justifica a complexa dinâmica a qual insere esse tema”. (SANTINELO; ROYER; ZANATTA, 2016, p. 113)

 

Portanto, em nosso entendimento, não será possível se apropriar da potencialidade dessas sonoridades humano-ambientais se, primeiramente, não houver nas alternativas pedagógicas propostas de um trabalho sério e bem fundamento sobre a própria dimensão natural perpassando pelos aspectos acima destacados e, não obstante, pela relação entre os elementos humanos e não humanos convergidos neste campo ecológico.

 

Mediante todos estes desafios, como superar, ainda que exponencialmente, tais barreiras e inserir a problemática das sonoridades de modo que haja o desenvolvimento desta cooperação entre os campos analisados e, ao mesmo tempo, a abrangência das memórias dos sujeitos envolvidos no seguimento escolar? Pois bem, embora não haja uma fórmula específica, pressupomos que uma série de propostas criativas e inovadoras podem contribuir com avanços significativos. Nesta perspectiva, um conceito que utilizamos visando auxiliar nossas reflexões acerca deste assunto é o de Ecologia Acústica. Segundo Raquel Lemos Castro: A Ecologia Acústica é um movimento que nasceu nos anos 70, no Canadá, da necessidade de se pensar o mundo através das relações acústicas que nele se constituem (CASTRO, 2007, p. 08). Dessa maneira,

 

“A Ecologia Acústica mobiliza inspirações conceituais e metodológicas oriundas de outras áreas como a Geografia, a Antropologia e a Sociologia, em particular as reflexões sobre paisagem, cultura e sociedade, inseridos em uma perspectiva que concebe as “sonoridades” como instância simbólica capaz de refletir aspectos do pensamento social e de transformar a experiência de vida das pessoas” (SANTOS; ROCHA, 2014, s/ p.).

 

No cerne destas afirmações, se “[...] a Ecologia Acústica opera a partir desse entrelaçamento de saberes, já que se dispõe a entender como sons, vida e sociedade se relacionam, assemelhando-se aquilo que realiza a Ecologia” (Ibidem), o presente conceito pode então ser uma estratégia viável frente as demandas que professoras e professores vivenciam cotidianamente referentes a esta discussão, inclusive quando o assunto é a dimensão memorialística dos indivíduos, uma vez que muitas dessas memórias são constituídas, parcial ou integralmente, de sons.

 

Poderíamos, portanto, indagar: Como transpor a interface existente entre a ecologia acústica e a produção de memórias para a sala de aula, mais especificadamente para o ensino de História? Partimos da premissa que uma alternativa pedagógica seria articular esta interação com a discussão acerca do conceito de patrimônio, conforme afirmado precedentemente. Desse modo, os alunos, neste processo, podem se reconhecer nesta proposição e, mais do que isso, eles próprios elencarem o que é patrimônio a partir daquela realidade histórica, social e ambiental da qual estão inseridos.

 

É necessário pontuar que o patrimônio não se restringe somente aos bens culturais móveis e imóveis representativos da memória nacional, como monumentos, igrejas ou edifícios públicos. Pelo contrário, o conceito de patrimônio cultural é muito mais amplo e não pode ser limitado aos bens materiais ou às produções humanas, ele abarca o meio ambiente e a natureza, e ainda se faz presente em inúmeras formas de manifestações culturais intangíveis.

 

Uma valoração do meio ambiente como patrimônio reconhecendo este como um elemento imbricado no processo histórico e que influencia as relações sociais coletivas e pessoais   deve almejar o reconhecimento da necessidade de um tratamento diferenciado do homem com o meio em que vive. Para se alcançar tal intento a educação patrimonial deve:

 

“[...] levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural”. (HORTA, GRUNBERG, MONTEIRO, 1999, p.6).

 

A educação patrimonial focada em sua face ambiental deve ser direcionada de modo a evidenciar as potencialidades dos bens culturais e naturais no campo da memória, das raízes culturais e da valorização da diversidade. Adquirir conhecimento e reconhecer-se como parte integrante de uma relação simbiótica com o meio em que vive constitui um fator importante no processo de conservação integral ou preservação sustentável do patrimônio, pois fortalece os sentimentos de identidade e pertencimento da população residente e ainda estimula a luta pelos seus direitos, bem como o próprio exercício da cidadania.

 

Tendo como base o propósito de levar o aluno a valorizar o patrimônio ambiental do entorno no qual vive, desenvolvemos oficinas pedagógicas que são ambientadas na região do Gualaxo Norte que, como aludido anteriormente, foi atingida pelo rompimento da barragem de fundão. Estas oficinas visam objetivos diversos, sobretudo, dar visibilidade a uma face que passa despercebida no nosso dia a dia, as sonoridades, e como estas perpassam nossa História e nos influenciam, contudo, diante dos limites metodológicos do presente artigo, não foi possível inserir aqui as oficinas pedagógicas. Para se ter acesso a elas, ver: “https://gualaxovivo.com.br/”.

 

Conclusão

             

A temática do meio ambiente se revela, na contemporaneidade, uma questão complexa e amplamente diversificada. Ao evidenciarmos como as sonoridades perpassam nossa História e são elementos integrantes dela, desejamos lançar também um olhar distinto para como devemos mudar nossa maneira de agir e se relacionar com a natureza. Ainda intencionamos que os alunos percebam que uma transformação desta relação homem-natureza/natureza-homem é possível, uma vez que essas condutas são construídas pelos indivíduos, de acordo com o contexto (espacial, temporal e social/cultural) em que vivem.

 

Não menos importante, enfatizar a presença das sonoridades no dinamismo do processo histórico e elucidar como pode ser profícuo estabelecer diálogos entre essa esfera e a dimensão ecológica é também, em nossa percepção, uma estratégia bastante válida na busca pela sistematização e dinamização do processo de ensino-aprendizagem no campo da educação básica sendo possível avançar nas discussões que já existem, ainda que em caráter pontual e fragmentário, transcender determinadas posturas inapropriadas e, simultaneamente, diversificar as ações pedagógicas a serem utilizadas em sala de aula.

 

Sendo assim, recorrermos às expressões de memórias dos sujeitos envolvidos, assim como a discussão sobre patrimônio, explicitada anteriormente, são procedimentos que integram essa série de alternativas que visam viabilizar a inserção destes mesmos indivíduos nas atividades do seguimento escolar tornando-os protagonistas de seus respectivos processos de aprendizagem, afinal são as memórias deles, os entendimentos e definições de patrimônio que eles possuem.

 

Referências biográficas

 

Cibele Aparecida Viana: Graduação e mestrado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente, curso doutorado pelo PPGHIS-UFOP. E-mail: cibeleouro@yahoo.com.br.

 

Marcone de Souza Guedes: Graduação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente, cursa mestrado pelo PPGHIS-UFOP. E-mail: marcone.guedes@aluno.ufop.edu.br.

 

Referências bibliográficas

 

ANDRADE, Maria Carolina Pires de; PICCININI, Cláudia Lino. Educação Ambiental na Base Nacional Comum Curricular: retrocessos e contradições e o apagamento do debate socioambiental. IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental. Juiz de Fora, 2017.

 

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CAMARA, Andrea Albuquerque Adour da; BUSCACIO, Cesar Maia; BUARQUE, Virgínia. Sonoridades Históricas de Minas Colonial e Imperial. Editora UFOP, 2021.

 

CARVALHO, Ely Bergo de; COSTA, Jamerson de Sousa. Ensino de História e meio ambiente: uma difícil aproximação. História & Ensino, Londrina, v. 22, n. 2, p. 49-73, jul./dez. 2016.

 

CASTRO, Guilherme Augusto Soares de. A performance do som: produção e prática musical da canção em estúdio a partir do conceito de sonoridade. Tese (Doutorado em Música) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, 2015.

 

CASTRO, Raquel Lemos. Ecologia Acústica. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2007.

como memória, registro e criação. MÉTIS: história & cultura – v. 16, n. 32, p. 22-42, jul./dez. 2017

 

FRANÇA, Cecília Cavalieri. Ecos: Educação musical e meio ambiente. Música na Educação Básica, v. 3, n. 3, p. 28-41, 2011.

 

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução: Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006

 

 HORTA, Maria L. GRUNBERG, Evelina. MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: Iphan — Museu Imperial, 1999. p.6.. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pdf. Acesso em: 23/04/2021

 

LACERDA, Regio. A sonoridade do mundo como lugar da constituição da identidade. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

 

MEC. CNE. CONSELHO PLENO. Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental.

 

MENEGUELLO, CRISTINA. Das ruas para os museus: a paisagem sonora como memória, registro e criação. Métis história e cultura., v16.,n.32, p. 24-42, jul./dez.2017.

 

MORAES, José Geraldo Vinci de. Escutar os mortos com os ouvidos. Dilemas historiográficos: os sons, as escutas e a música. Topoi, Rio de Janeiro, v. 19, n. 38, p.109-139 mai./ago. 2018.

 

PARREIRAS, Mateus. Ruínas de Bento Rodrigues revelam comunidade petrificada. Jornal Estado de Minas. 02 maio 2016. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/05/02/interna_gerais,758257/ruinas-de-bento-rodrigues-revelam-comunidade-petrificada.shtml. Acesso em: 03 mar. 2021.

 

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Sensibilidades no tempo, tempo das sensibilidades. Disponível em: https://journals.openedition.org/nuevomundo/229. Acesso em: 25/03/2021

 

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Tradução: Dora Rocha Flaksman. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1989.

 

SANTINELO, P.C.C.; ROYER, M.R.; ZANATTA, S.C. A Educação Ambiental no contexto preliminar da Base Nacional Comum Curricular. IN: Pedagogia em Foco, Iturama (MG), v. 11, n. 6, p. 104-115, jul./dez. 2016.

 

SANTOS, Brena Neilyse Correia dos; ROCHA, Ewelter de Siqueira. Educação musical e meio ambiente: o mar que se ouviu da escola. EdUECE - Livro 3, 2014. Disponível em: http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro3/207%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20MUSICAL%20E%20MEIO%20AMBIENTE%20O%20MAR%20QUE%20SE%20OUVIU%20DA%20ESCOLA.pdf. Acesso em: 21 abr. 2021.

 

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

 

7 comentários:

  1. Gostaria de dar os parabéns aos pesquisadores e dizer que visitei o site referido e fiquei encantada com o trabalho. Ali tem mapas com desenhos, sons da maioria Seles, atividades para realizar em escola, enfim, uma infinidade de materiais. Lendo o texto e visitando o site, gostaria de perguntar se é realizada alguma atividade com a comunidade, utilizando estes recursos, de forma a proporcionar encontros de educação não-formal e, até mesmo, com relação a uma possível arteterapia, produzindo novos sons e, a partir destes, uma ressignificação dos sons e valorização dos modos de vida dos moradores. O que lhes parece esta questão? E, mais uma vez, parabéns pelo belíssimo trabalho.

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    1. Cara Sandra,
      Obrigada pela leitura do nosso trabalho e visita ao site do nosso grupo de pesquisa.
      A construção de todas as atividades é uma proposta interdisciplinar e que pode se desdobrar em uma série de atividades de acordo com a área e a criatividade do docente. Certamente, as múltiplas possibilidades propiciadas por esta multidisciplinaridade abarcaram experiências associadas as artes e a produção de novos sons. Como nós partimos do pressuposto que os alunos e todos os demais integrantes destas comunidades são os protagonistas deste processo de produção/ressignificação, as vivências individuais e coletivas próprias das muitas realidades que perpassam pela dinâmica de vida dos sujeitos envolvidos ocupam posição privilegiada também nas proposições que o grupo tem procurado apresentar.
      Assim, pensando mais restritamente a questão da realização de trabalhos com as comunidades, todas as oficinas são pensadas para serem aplicadas nas escolas das regiões atingidas e com possibilidades de adaptação para outras realidades. No momento, colocá-las em prática nas escolas ainda não foi possível devido a realidade de isolamento social que estamos vivendo e, consequentemente, o ensino remoto, em virtude da pandemia do COVID-19. Todavia, o objetivo é aplicá-las tão logo o ensino presencial volte a ser uma realidade.
      Abraços
      Cibele e Marcone

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  2. Parabéns as autoras pelo trabalho, a produção realizada mostrou as potencialidades da pesquisa realizada e legou aos leitores muitas possibilidades de trabalho com a educação patrimonial. abraços

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    1. Cara Jaqueline:
      Obrigada pela leitura do nosso trabalho e comentário que nos alegram e motivam a continuar a caminhada em pesquisar e desenvolver atividades que possam ser uma alternativa de ações para os docentes de forma a auxiliar no processo de construção do conhecimento e também de contribuir, ainda que muito modestamente, para este processo vivenciado pelas comunidades atingidas, neste momento em que se encontram. Não é uma tarefa simples, mas, em nosso entendimento, necessária.
      Abraços
      Cibele e Marcone

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  3. Cibele e Marcone, tudo bem?
    Primeiramente gostaria de parabenizar pela pesquisa, o tema é muito interessante.
    Fiquei super curiosa em ler esse trabalho, o título já chama a atenção.
    Pode ser que pelo fato de eu nunca ter pensado/refletido sobre as sonoridades enquanto produção de memórias. A abordagem da pesquisa revela mais nuances das variadas possibilidades de se trabalhar memória, história, patrimônio cultural, enfim...
    Tenho muitas perguntas, mais especificamente no campo das curiosidade mesmo... mas vou colocar duas, as quais foram as primeiras que me vieram à mente quando fui lendo o texto.
    1 - Vocês falam de sonoridades, porém percebo que há um recorte para o campo das memórias traumáticas, certo? Nesse sentido, como os indivíduos revelam à vocês essas memórias? E vocês como interpretam-nas?
    2 - Fiquem pensando nos indivíduos surdos. Vocês tem alguma experiência/vivência de como trabalhar essa mesma temática com eles?
    Bem, é isso, no mais incrível esse trabalho!
    Atenciosamente,
    Camila de Brito Quadros.

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