Andrea Cristina Marques

VALORIZANDO O PASSADO ATRAVÉS DO PRESENTE: O PASSADO DOS ENGENHOS REFLETIDO NO OLHAR DOS ALUNOS DA CIDADE DE PILÕES-PB

 

O referido projeto foi realizado na Escola Estadual Dom Santino Coutinho, situada no centro da cidade de Pilões, com a turma do 7º ano do Ensino Fundamental, na disciplina de História, relacionado ao conteúdo que estudamos no 3º Bimestre do ano de 2020, “Colonização na América Portuguesa”.

 

Tratando um pouco da cidade de Pilões, temos segundo o senso do IBGE de 2010, uma população que possui cerca de 6.978, sendo 3.332 na zona urbana, zona rural 3.646 habitantes. É uma região originária da Mata Atlântica e possui clima Tropical chuvoso. Considerando o perfil do alunado, que é residente na zona rural da cidade, onde situam-se alguns engenhos do período da produção da cana de açúcar, através destes patrimônios busquei a valorização da cidade de Pilões, através do estudo, identificação do patrimônio histórico, construído no século XX, tendo como perspectiva a importância que a história local exerce na formação da cultura histórica e de maneira esse conhecimento patrimonial constrói bons cidadãos, críticos, reflexivos, acerca do seu contexto social e cultural. (MATTOZZI, 2008).

 

Estas construções representam a história vivida no brejo paraibano. Pois, embora atualmente a produção econômica em Pilões tenha como base os serviços, a indústria e a agropecuária, segundo Silva (2015), no passado a economia girava em torno da monocultura de açúcar.

 

Percebendo em meu cotidiano de professora o patrimônio histórico como uma maneira pela qual a sociedade consegue mostrar e contar sua história (perspectiva que começou a ser considerada a partir dos anos de 1920-1930), dando uma nova possibilidade de leitura e interpretação dessa disciplina, que pode ser feita através de falas, documentos, materiais, personagens, fontes anteriormente discriminadas como não válidas para a construção da História. Passando-se a valorizar no estudo da História questões cotidianas, fontes cotidianas, como as classes subalternas, as crenças, os valores e vários outros temas, antes excluídos. (MELO e CARDOSO, 2015).

 

Nessa perspectiva, alargou-se a antiga compreensão que dava significado ao patrimônio cultural, passando a considerar vários objetos materiais, imateriais, como construções, prédios, casas, crenças, danças, costumes, dentre outras muitas possibilidades de patrimônio histórico. E, sendo a disciplina de História, uma matéria de grande relevância dentro do contexto histórico-cultural, no qual todos estamos inseridos, nos compreendendo enquanto sujeitos históricos, construtores de nossa própria realidade, procuro no cotidiano de professora trabalhar as identidades e contextos no qual meus alunos estão inseridos, trazendo o dia a dia deles para as nossas aulas, levando da teoria à prática suas vivências e experiências de vida.

 

Embora à distância, pois estamos seguindo os procedimentos de prevenção relacionados à pandemia da COVID-19, que tem ocorrido no Brasil inteiro. Nas aulas teóricas, online, acessamos slides e textos, fotos, imagens e capítulos de livros, para estudarmos e aprofundarmos o conhecimento acerca do conteúdo, que tratava do “Período colonial na América portuguesa”, na sequência damos enfoque para as construções dos engenhos, sua produção açucareira no Nordeste e depois no brejo paraibano, especialmente na cidade de Pilões.

 

Para tanto, tivemos a preocupação em desenvolver as seguintes habilidades, relativas às questões que estávamos estudando no conteúdo citado anteriormente. As habilidades consideradas de maior relevância e que passaram a ser objetivadas aqui foram: a identificação de conexões e interações entre as sociedades do Novo Mundo, da Europa, da África e da Ásia (no contexto das navegações), indicando a complexidade das interações que ocorreram nos Oceanos e no Pacífico, Índico e Pacífico; assim como comparar as navegações no Atlântico e no Pacífico entre os séculos XIV e XVI; descrição acerca das dinâmicas comerciais das sociedades americanas e africanas, analisando suas interações com outras sociedades do Ocidentes e do Oriente; fazendo a discussão sobre o conceito de escravidão moderna e suas distinções em relação ao escravismo antigo e à servidão medieval; a análise dos mecanismos e as dinâmicas de comércio de humanos escravizados em suas diferentes fases, identificando quais foram os agentes responsáveis e identificando também quais zonas  ou regiões africanas de procedência dos escravizados; utilizamos, por último, a caracterização da ação dos viajantes europeus e suas lógicas mercantis, comerciais, visando ao domínio do mundo atlântico.

 

Nesse procedimento interdisciplinar, o qual pontuamos anteriormente, a relação entre as disciplinas, a exemplo da Língua Portuguesa esteve bastante presente, em vários momentos, começando por reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema; reconhecer posicionamento em um ou mais textos que tratam do mesmo tema; estabelecer relações lógico-discursivas, presente no texto, marcadas pelo uso de elementos linguístico, recorrendo ao efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão.

 

Seguimos como objetivos, nessa lógica interdisciplinar e procurando o desenvolvimento das habilidades já postas, algumas questões como: conhecer, discutir e problematizar a produção açucareira, referente ao período colonial brasileiro estudado; compreendendo em especial as construções que se relacionam ao passado dos engenhos na cidade de Pilões, em seus aspectos culturais, sociais, considerando também a cultura açucareira como uma economia que trouxe muita prosperidade para a região do brejo da Paraíba, no século passado; apresentando a história do Brasil colônia e suas respectivas características, demonstrando sua importância enquanto conhecimento histórico e identitário de nossa sociedade brasileira; conhecendo inicialmente a história do Brasil colonial através de leituras, fotos, imagens; apresentar a história do Nordeste colonial, em seu momento mais próspero, onde a cultura da cana-de-açúcar foi produzida e vendida como um produto bastante especial para o exterior, sendo considerada uma especiaria nessa época; conhecer a história do Brasil colonial através de leituras, fotos, imagens de engenhos coloniais, casas-grandes, senzalas e plantações de cana-de-açúcar; mostrar a história da cidade de Pilões, no contexto das construções dos engenhos e cultura canavieira, e de que maneira isso influenciou para que a cidade desenvolvesse no passado riquezas culturais, econômicas e sociais, com relação aos casarões, engenhos e fazendas produtoras de açúcar; valorizando o patrimônio histórico e arquitetônico a partir da identificação dos alunos com sua cidade, Pilões, brejo paraibano; produzindo imagens, desenhos, textos, sobre o conteúdo, demonstrando a valorização e identificação dos alunos, com relação ao passado e à história da cidade de Pilões, Paraíba.

 

Assim, com a participação dos alunos do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Santino Coutinho, Pilões, Paraíba, referente ao 3º Bimestre, procuramos incentivar a valorização do patrimônio histórico e arquitetônico relativo às construções dos engenhos, produtores de cana-de-açúcar dessa cidade, considerando a riqueza demonstrada por essas construções que embora façam parte de uma história do passado, merecem ser identificadas, conhecidas e valorizadas pelos alunos, que são também parte dessa história, já que além de alunos de Pilões, são moradores da cidade e vivem imersos na história e cultura da cidade. Para começar a colocar em prática esse projeto, os alunos assistiram várias aulas online (virtuais), considerando que estamos passando por um período de isolamento social, em razão da pandemia do vírus COVID-19, que tem acontecido tanto no Brasil quanto no exterior. Nesse sentido, tivemos aulas introdutórias sobre o conteúdo de Brasil colonial – América portuguesa.

 

Após essa introdução fizemos as discussões, questionamentos sobre o conteúdo em questão e continuamos com a introdução à cultura açucareira no Nordeste brasileiro nesse período. E como acontecia o trabalho das pessoas escravizadas nos engenhos.

 

Após trabalhar questões referentes ao Brasil colonial e os engenhos do Nordeste colonial, observando as etapas da produção do açúcar, os trabalhadores escravizados dedicados todo tempo a essa produção. Voltamos nossos olhares à história da cidade de Pilões e seu passado, com base na vida econômica pautada no plantio da cana-de-açúcar, no cotidiano dos engenhos e como isso fez parte de uma época próspera, rica, que possibilitou aos senhores de engenhos da região tornarem-se homens de posses.

 

Acerca do contexto da cultura canavieira em Pilões, o envolvimento dos alunos foi intenso, havendo a percepção da identificação deles como parte da história daquela cidade. Embora a pesquisa sobre a história de Pilões tenha sido difícil (devido à escassez de material, seja impresso ou virtual), fizemos a relação do passado glorioso dos engenhos locais, com o momento presente da cidade.

 

Inicialmente, uma produção textual foi feita pelos alunos, referindo-se à relevância do passado açucareiro, com seus engenhos e cultura canavieira em Pilões.

 

Essas reflexões e discursos mostram a relação passado-presente estabelecida pelos alunos, demonstrando também a forma como pensam a história e como ambos se entrelaçam com o passar dos anos. Sendo assim, começamos a visualizar o objetivo desse projeto, a oportunidade dos alunos enquanto moradores e pessoas mergulhadas na história da cidade de Pilões, se identificarem e a valorizarem, pois, considera-se que os bens produzidos culturalmente realizam três processos: o de produção, o de descoberta e o de uso, trazendo conhecimento e valorização socialmente desses bens, patrimônio. (MATTOZZI, 2008).

 

Da mesma maneira como colocamos em prática o desenvolvimento de produções textuais, selecionadas de acordo com à fidelidade à temática objeto do projeto, sobre a relevância dos engenhos para a história da cidade de Pilões, como também foram produzidas imagens, desenhadas pelos alunos, considerando a identificação e deles e a relação existente entre os próprios alunos e as construções de engenhos existente em Pilões.

 

Nesses desenhos, também selecionados quanto à fidelidade referente à temática proposta, percebemos como a turma se aproxima da identidade da cidade, demostrando carinhosamente, pelas imagens feitas no papel, além de um apego pela história dos engenhos pertencentes à terra natal deles, o valor que essa representação do patrimônio possui para eles em seu dia a dia. Já que as marcas deixadas pelos processos de produção do passado ganham um valor cognitivo como instrumentos de informação, de valor estético, afetivo, simbólico, objetos de atenção, de estudos, de cuidado, de proteção, se tornando bens culturais, dentro do nosso ambiente social (MATTOZZI, 2008). O valor das construções dos engenhos em Pilões, para os alunos do 7º ano em questão, ultrapassa o cultural, chegando a ter um valor afetivo, simbólico, pois esses engenhos, fazem parte do cotidiano deles, das suas identidades.

 

Embora não tenhamos feito um momento de culminância presencial, por causa do isolamento social, em relação à pandemia de COVID-19, que estamos vivenciando, observando as produções textuais e de imagens, desenhos, feitos pelos alunos, podemos afirmar que fomos bem-sucedidos, conseguindo atingir nosso objetivo proposto inicialmente. A turma desenvolveu habilidades diversas, como a da narrativa, da escrita, por meio das produções textuais, como também artística, criativa, através das imagens, desenhos criados.

 

Obtivemos sucesso também na questão relativa à valorização e identificação da turma no que se refere à riqueza patrimonial e histórica na qual eles vivem inseridos, no contexto da cidade de Pilões.

 

Finalizado esse projeto que teve como objetivo a identificação e valorização do patrimônio histórico e arquitetônico existente na cidade de Pilões, Paraíba, podemos colocar que tivemos êxito em relação à ideia proposta, considerando o envolvimento dos alunos do 7º ano, suas produções textuais, reflexões acerca da temática desenvolvida, assim como as imagens, desenhos criados. As produções textuais e de desenhos, imagens, demonstraram os sentimentos, o afeto, a valorização e a identidade dos alunos, que se confunde e se mistura com as histórias dos engenhos de cana-de-açúcar construídos em Pilões naquele passado próspero.

 

No percurso do desenvolvimento do projeto, foram encontradas muitas dificuldades e percalços que dificultaram seu desenrolar. Como as dificuldades relacionadas às referências bibliográficas sobre a cidade de Pilões, para apresentar teoricamente a história dos engenhos pilonenses. Também houve o percalço relacionado à pandemia que estamos vivenciando, do vírus COVID-19, no ano 2020, que tornou complicada a junção entre teoria e prática. Pois, inicialmente, antes da pandemia, pensou-se em fazermos visitas às propriedades onde se localizam os engenhos nos quais os alunos do 7º ano têm mais proximidade. O que não foi possível, devido ao isolamento social que tivemos que fazer, conforme prescrições do Ministério da saúde e que as redes escolares tiveram que aderir, como protocolo de segurança.

 

Porém, mesmo seguindo o Regime Especial de Ensino que tivemos que colocar em prática, algumas modificações foram feitas no projeto, que se desenvolveu de forma virtual, à distância, através de redes sociais, plataformas de ensino, como o Whatsapp e Google Classroom. Essas mídias, colaboraram muito para desenvolvermos esse projeto, mesmo com o distanciamento, virtualmente conseguimos ter a participação dos alunos e considerar o valor do patrimônio histórico local da cidade de Pilões, Paraíba.

 

Referência biográficas:

 

Mestre Andrea Cristina Marques - Universidade Federal de Campina Grande-PB.

Professora de História das redes Municipal e Estadual de ensino no Estado da Paraíba.

 

Referências bibliográficas:

 

LEITE, Marlene Baracuhy de Paiva. Subindo a Serra do espinho. Editora: Gráfica Santa Marta: João Pessoa, 1996.

 

MATTOZZI, Ivo. Currículo de história e educação para o patrimônio. Revista de História. Dossiê práticas de memória e ensino de História. Belo Horizonte, n. 47, p. 135-155, jun., 2008.

 

MELO, Alessandro de.; CARDOSO, Poliana Fabiula. Patrimônio, turismo cultural  e educação patrimonial. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 36, nº. 133, p. 1059-1075, out.-dez., 2015.

 

BOULOS, Alfredo. História, sociedade & cidadania. 7º ano. 4. ed. - São Paulo: FTD, 2018.

 

SILVA. Raquel Rocha da. Questão agrária e luta por direitos trabalhistas em uma região açucareira (Pilões-1987). Trabalho de conclusão de curso, TCC. Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Humanidades, Guarabira, 2015. 71 p.

2 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.