Alcimara Aparecida Föetsch

A PATRIMONIALIZAÇÃO EDUCATIVA DO CEMITÉRIO ÉTNICO POLONÊS - DA FUNÇÃO RELIGIOSO-SANITÁRIA AO BEM CULTURAL PÚBLICO

 

“Caíam gotas de água benta sobre aqueles jazigos, sobre aquelas cruzes salientes, e o povo batia no peito e recitava preces pelos falecidos. E a procissão fúnebre seguiu para todos os lados do cemitério. Um coral de vozes, preces e suspiros elevava-se acima do reino da morte.” (POSADZY, 2018, p. 296).

 

Ao relatar impressões de suas visitas às colônias polonesas na América do Sul em 1929, 1930 e 1931, o padre polonês Ignacy Posadzy narra uma procissão a um cemitério catarinense descrevendo velas acesas, vozes chorosas, sinos ressoando, estandartes se agitando e a Cruz de Cristo abrindo caminho. Em outro trecho, já se referindo às terras do Paraná, descreve o finamento do colono João Litwin, cujo corpo colocado em um caixão feito de tábuas foi enterrado, caindo sobre ele torrões de argila vermelha paranaense, concluindo: “Sepultaram-no com o rosto virado para a Polônia. [...] Valentim Sawiniec talhou a cruz do Senhor. Um outro escreveu na Cruz as palavras: Dorme, ó polonês, em tumba estranha, Sonha nela com a tua Polônia” (p. 147).

 

Entrelaçando a premissa de Câmara Cascudo (1971) de que “Morre-se em qualquer parte do Mundo, sob a condição preliminar de estar-se vivo” (p. 93) à inegável constatação de Posadzy (2018) de que “também sob o lindo céu brasileiro as pessoas morrem” (p. 66) nos propomos a discutir o discreto encanto dos cemitérios nas antigas colônias polonesas do Sul do Brasil. Intentamos defender esses campos santos enquanto lugares de memória que alimentados constantemente por uma rede de significados, transcendem sua função utilitária se tornando bem cultural, repositório tangível de identidade e espaço privilegiado de Educação Patrimonial.

 

Na diversa literatura que explica a formação e a evolução das colônias polonesas no sul brasileiro encontramos, comumente, textos e textos, páginas e páginas, retratando, com detalhes, a construção de igrejas, casas, galpões e armazéns; da mesma forma, são enriquecedoras as menções ao cultivo, roças, recursos da natureza, vida social comunitária e religiosidade. São muitos os relatos das dificuldades de adaptação ao ambiente, enfermidades, moléstias e até narrativas de despedida e luto, entretanto, são custosas e raras as referências minuciosas acerca da espacialidade dos cemitérios. Quem sabe se deva ao ressentimento da perda, às dolorosas vivências da despedida sem assistência, às inconformidades com a finitude precoce, às dificuldades de socorro e amparo no “Novo Mundo”, à dissolução de esperançosos sonhos, à não aceitação da morte, ou, a composição coletiva de todas essas razões. Talvez o cemitério tenha sido o espaço material escolhido por esse povo, inconscientemente, para abrigar todas as frustrações e mágoas de um processo migratório desafiador, árduo e aflito, tornando o campo santo onde foram sendo, ao longo dos anos, materialmente depositados os corpos sem vida dos primeiros que se dispuseram a, corajosamente, transpor as fronteiras.  

 

Tal discussão se apresenta relevante à medida em que descortina não apenas a insuficiência de fontes históricas acerca do surgimento dos cemitérios poloneses, mas igualmente suscita a discussão acerca do direito à memória étnica dos lugares que, ameaçados em sua existência, carecem do reconhecimento patrimonial como possível garantia de continuidade, sendo imperioso aventar perspectivas que garantam não somente sua valorização como também sua reciclagem simbólica. Compreendemos que a ausência da narrativa também é uma narrativa, sendo o não-narrar extremamente simbólico. O cemitério comunica, representa, é construção material na paisagem e evoca lembranças, as quais desagradáveis talvez, elevaram o lugar de sua representação à condição de réu sem julgamento. Adicionamos o ingrediente turístico midiático que tem rotulado o cemitério enquanto local de assombro/temor e temos como resultado concepções hegemônicas que necessitam ser revisitadas e revistas.

 

Nosso objetivo não é discutir o campo simbólico da cerimônia funerária, não nos interessam, nesse momento, as questões associadas aos motivos do falecimento, o luto ou a ritualística dos sepultamentos. Propomos uma “Uma geografia da morte” (PEGAIA, 1967) alimentada por bases interdisciplinares com vistas a analisar a complexidade do cemitério em sua riqueza de possibilidades investigativas, para além de uma zona cinzenta na memória, acrescentando que a morte ocupa de fato sociólogos, antropólogos, poetas, pintores, agentes funerários, mas não tradicionalmente os geógrafos. A necrópole é lugar de significado, testemunho emblemático da constituição das sociedades e o “conhecimento de qualquer comunidade ficará sempre incompleto se não incluir seu cemitério” (COELHO, 1991, p. 8).

 

Disto partindo, consideramos os cemitérios de origem polonesa das antigas colônias do sul brasileiro como elementos de identificação étnica que sobrepuseram e transcenderam funções utilitárias religiosas e/ou sanitárias se tornando bem cultural, espaços de referência à ancestralidade e lugares de memória (NORA, 1993). Os compreendemos como parte de um “ecossistema do patrimônio” (POULOT, 2008) e acreditamos que sua interpretação somente pode ser compreendida a partir da elaboração de significados, uma vez que seu reconhecimento patrimonial cultural é construído histórica e socialmente. No caso específico dos cemitérios, Santos (2011) coloca que “o monumento funerário se constitui em um importante artefato, um documento para testemunhar o desejo de perpetuar a memória afetiva” (p. 283), notadamente étnica.

 

Entretanto, logo de início, acrescentamos a ressalva de que o cemitério não foi concebido inicialmente para ser museu e que não basta querer ou nominar, é preciso um complexo processo de investimento, reconhecimento e identificação considerando aspectos conceituais, processuais e administrativos. De fato, “potencialmente, tudo é museável (passível de ser incorporado a um museu), mas, em verdade, apenas determinado recorte da realidade será musealizado” (CHAGAS, 1996, p. 58). Catroga (2010) já colocava, nesse sentido, que o “nexo entre a memória e o monumento, articulado com o jogo dissimulador dos símbolos funerários, obriga, porém, a ter-se cautela na qualificação do cemitério como museu” (p. 171) acrescentando que “ao contrário das peças de um museu, os objectos cemiteriais não são psicologicamente dissociáveis da estrutura em que se integram e do horizonte da crença e de sentimentos com que são lidos” (p. 172), afirmando que nos:

 

[...] cemitérios do século XIX, o mausoléu, o jazigo-capela, a concessão perpétua constituíam um património, de certo modo privado e transmissível como qualquer outro, que funcionava como uma espécie de prova última segundo a qual a eternização da memória do proprietário (logo, de toda a linhagem familiar) ficava dependente da capacidade que os seus descendentes teriam para a perpetuar. (p. 177).

 

Trata-se, portanto, de usos e finalidades distintos, no entanto, os cemitérios possuem valoração patrimonial que deve ser considerada, pois:

 

“Nos museus, a manipulação dos originais por equipes especializadas é tratada como aspecto fundamental. O espaço museal constitui um sistema preparado para a guarda, a pesquisa e a exposição de originais, assim como para sua conservação e, em casos extremos, sua restauração, tendo por princípio a finalidade de manter, proteger e fornecer segurança a todos os documentos que, pelo potencial comprobatório, possam viabilizar o processo de construção da história. Diferentemente, os cemitérios têm por característica a exposição dos conjuntos tumulares ao tempo e às intempéries, às chuvas ácidas e à poluição, que aceleram a degradação, também às sombras das árvores, que ocasionam a proliferação de microrganismos, e à insolação direta, que acarreta sérias alterações nos materiais, provocando trincas, bolhas e até desprendimento e perda de partes” (COSTA, 2016, p. 44).

 

Candau (2010) atesta que a patrimonialização e a tomada de valor do patrimônio podem ser consideradas “narrativas que inscrevem o objeto patrimonial em uma tradição ou, melhor ainda, que ‘tradicionalizam’ esse objeto e que, em primeiro lugar, são destinados a assegurar em sua essência, a sociedade que é o autor: de onde ela vem, onde vai [...]” (p. 48), sendo que, as necrópoles mais “do que repositórios de objetos e coisas, são espaços/cenários forjados para proporcionar o encontro entre sujeitos e suas referências patrimoniais” (TAVARES, RIBEIRO e BRAHM, 2019, p. 38). Tendo isto considerado, propomos discutir a patrimonialização educativa do cemitério, não enquanto museu, mas analisando a transposição de sua função religiosa e sanitária para o reconhecimento de seu legado como bem patrimonial cultural público de identificação étnica. Para tanto, perpassamos por suas redes de significação, pelo desenho social do artefato cultural e do documento enquanto testemunho, prova material de transmissibilidade e referencial que nos orienta no mundo. Conjecturamos que a estrutura material (tangível) e o horizonte da crença (imaterial) são indissociáveis enquanto herança de uma sociedade do presente, de uma sociedade autora, que precisa o reivindicar, apropriar, eleger, reconhecer e salvaguardar. Dessa maneira, pautamos a discussão nas seguintes dimensões:

 

i) Proximidade das igrejas: analisando a localização estratégica que associada à função religiosa que dá vida ao binômio Igreja X Cemitério. Discutimos os cemitérios paroquiais e sua presença na paisagem cultural;

ii) As cercas e os pórticos: enquanto limites, a cerca impedindo a entrada e o portão convidando para dentro. Constituem elementos de proteção, de separação entre o mundo dos vivos e espaço dos mortos, demarcam espacialidade, são abrigo;

iii) Estilo construtivo: identificando características construtivas dos cemitérios e dos túmulos, tamanho, proporção, materiais/estilos de época, disposições, gostos dominantes que representam padronizações temporais. Destacamos que se tratam de monumentos que celebram e preservam memórias, transcendem suas funções utilitárias, são elementos de transmissão;

iv) Personagens, suas funções e atuações comunitárias pelo olhar dos descendentes, buscamos revelar as histórias de vida de modo a aproximar e humanizar;

v) Fabulações locais enquanto patrimônio intangível;

vi) Biografias, menos religiosas e mais memorialistas;

vii) Documentação funerária: atas, livros registro de óbito, fotografias e demais informações escritas como em registros paroquiais, cartorários e pessoais;

viii) Ritualização do luto, vivências e memórias de despedida;

ix) Inscrições tumulares no idioma polonês, epitáfios que evidenciam a historicidade do tempo e as formas de linguagem observando tipos, recorrências e padrões;

x) Marcos edificados comemorativos, como placas de identificação (individuais e comunitárias), referências ao mito de origem, eventos fundadores, personagens imortalizados;

xi) Cemitérios já extintos ou em condições precárias, abandonados;

xii) Ações preservacionistas identitárias coletivas e individuais como políticas de preservação;

xiii) Educação patrimonial, por uma Pedagogia Cemiterial de cunho educativo que valora a vitalidade e a aura simbólica, parte das reminiscências, identificações étnicas e afetividades de modo a encontrar ressonâncias nas comunidades. Buscamos evitar a morte patrimonial através de uma política de patrimônio que balance o dever de memória e a necessidade do esquecimento.

 

Candau (2010) coloca para reflexão duas ordens excessivas quando se pensa uma política do patrimônio. A primeira, vinculada ao excesso de preservação, cuja “patrimonialização generalizada tende a museificar a sociedade como um todo” (p. 53) e, a segunda, associada a obsessão identitária que “conduz a pensar um patrimônio contra o outro, tomando apoio sobre outras oposições” (p. 53) que podem conduzir a enfrentamentos violentos. Talvez uma saída para evitar esses excessos seria considerar a “justa memória” de Ricoeur (2007), ou seja, saber manter o balanço entre o dever de memória e a necessidade do esquecimento.

 

Acreditamos que a abordagem do espaço cemiterial pode ser favorecida pela Educação Patrimonial, “que ressalta as potencialidades do conjunto tumular, do ambiente e do paisagismo cemiteriais, enquanto documentos detentores de informações a respeito dos mais diversos aspectos históricos e culturais de uma comunidade ou localidade” (COSTA, 2016, p. 06). Falamos em “lugar patrimonial” (CANDAU, 2010, p. 52) combinando à sugestão de Nogueira (2013) de que o cemitério é, além de tudo, uma instituição cultural. Acrescentando que os objetos não têm alma, é preciso animá-los, coloca-los em movimento. Tavares, Ribeiro e Brahm (2019) consideram que “os processos de preservação devem se ocupar justamente da vitalidade dessas reminiscências, pelo desejo de memória, mediados pelas afetividades” (p. 14), que Nora (1993) chama de “aura simbólica”.

 

Dessa maneira, é preciso que o cemitério seja visto enquanto um patrimônio com ressonâncias, a aceitação coletiva do bem patrimonial para além do jurídico, é documento onde o intangível é cristalizado pela dimensão material da cultura, pois os  “objetos que compõe um patrimônio precisam encontrar ressonância junto ao seu público” (GONÇALVES, 2007, p. 214-215). Existe no cemitério um potencial mediador e, uma forma interessante, seria por meio da dimensão pedagógica de seu patrimônio e das ações preservacionistas.

 

Urbain (1998) caracterizou os cemitérios como bibliotecas e os túmulos como sendo livros. Neste sentido, Catroga (2010) acrescenta que a necrópole é um livro escrito em linguagem metafórica onde o:

 

“[...] território dos mortos funciona, simultaneamente, como um texto objectivador de sonhos escatológicos (transcendentes e/ou memoriais) e como um espaço público e de comunhão, isto é, como um cenário miniaturizado do mundo dos vivos e como um teatro catártico de lutos, bem como de produção e reprodução de memórias, de imaginários e de sociabilidades” (p. 175).

 

É possível, portanto, que a necrópole se apresente como bem cultural, reflexo de um pensamento histórico, registro de memórias étnicas, espaço de saber técnico-artístico, repositório da identidade social e, assim sendo, espaço privilegiado para uma Educação Patrimonial. Tavares, Ribeiro e Brahm (2019, p. 59) enfatizam que para:

 

“[...] além das funções científicas, didáticas e pedagógicas e de suma importância no campo do turismo cultural, o cemitério musealizado poderá adquirir novo estatuto, tornando-se um marco patrimonial – elemento referencial de cultura para a comunidade em que se integra, revelando-se à população um espaço de reconhecido valor cultural”, evitando a “Morte patrimonial” (idem, p. 17).

 

Dessa maneira, defendemos a categorização dos cemitérios enquanto patrimônio dos lugares, os consideramos fruto de distintos momentos históricos e reveladores de conjunturas sociais sendo, portanto, cenários culturais. Estando sob a guarda e proteção da Igreja ou do Poder Público, a sobreposição de suas camadas revela a ritualização do luto e a teatralidade da morte, são epitáfios, dizeres, iconografias, mensagens, saudações, imagens, estilos construtivos tumulares, adornos, recordatórios e relicários que revelam as práticas performativas atreladas à signos materiais, semióticos.

 

Para os poloneses, assim como para outros grupos étnicos, a espacialidade dos campos santos e sua complexidade os tornam organizações bibliotecárias onde se podem identificar intenções cívico-educativas, sendo necessária e justificável sua identificação, catalogação, mapeamento e categorização enquanto bem cultural, patrimônio étnico. Catroga (2010) coloca que “o monumento funerário dos novos cemitérios tem de ser interpretado à luz destas estratégias de transmissão” (p. 177).

 

Por fim, encerramos esta proposição de diálogo com um trecho escrito por um imigrante, filho de um agricultor do distrito de Zloczowo, que emigrou para o Brasil em 1895:

 

“Já faz quarenta anos que me encontro no estrangeiro, eu nunca me esquecerei do meu país natal e, por mais que eu tenha aqui no estrangeiro, isso não significa nada pra mim, porque este é para mim um país estranho. Quando eu aqui morrer, meu espírito voará à minha Pátria e ali, no cemitério, pousará no braço do cruzeiro e chorará seu destino. Mas hoje, quando ainda vivo, envio a ti, querida Polônia, Pátria minha, os meus respeitos, as minhas dores e as minhas mágoas. Eu te envio as minhas saudações deste longínquo rincão do mundo” (MAZUREK, 2016, p. 378 – destaque nosso).

 

Referências biográficas

 

Professora Drª. Alcimara Aparecida Föetsch. Professora Adjunta do Colegiado de Geografia da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, Campus União da Vitória. Coordenadora do Programa de Extensão “Observatório Polonês da Unespar”, poloneses@unespar.edu.br

 

Referências bibliográficas

 

CÂMARA CASCUDO, L. da. Tradição, Ciência do Povo. Pesquisa na Cultura Popular do Brasil. Editora Perspectiva: São Paulo, 1971. (Coleção Debates – Etnografia).

 

CANDAU, J. Bases antropológicas e expressões mundanas da busca patrimonial: memória, tradição e identidade. In: Revista Memória em Rede. Pelotas, v. 1, n. 1, dez. 2009/mar. 2010. (p. 43-58).

 

CATROGA, F. O culto dos mortos como uma poética da ausência. In: ArtCultura. Uberlândia, v. 12, n. 20, Jan./Jun., 2010. (p. 163-182).

 

CHAGAS, M. S. Museália. Rio de Janeiro: JC Editora, 1996.

 

COELHO, A. M. Abordar a Morte, Valorizar a Vida. In: COELHO, A. M. (Coord.). Atitudes perante a morte. Coimbra: Minerva, 1991. (p. 7-11).

 

COSTA, M. A. B. da. (Org.). Conservação de bens tumulares: caderno dirigido aos concessionários. São Paulo: Limiar, 2016.

 

GONÇALVES, J. R. S. Antropologia dos objetos: coleções, museus e patrimônios. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

 

MAZUREK, J. A Polônia e seus emigrados na América Latina (até 1939). Tradução de Mariano Kawka. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2016.

 

NOGUEIRA, R. de S. Quando um Cemitério é Patrimônio Cultural. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Memória Social, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.memoriasocial.pro.br/documentos/Disserta%C3%A7%C3%B5es/Diss321.pdf>. Acesso em: 27/04/2021.

 

NORA, P. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. v.10, 1993. (p.07-28). Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/12101, acesso em 30/09/2020.

 

PEGAIA, U. A. Estudo geográfico dos cemitérios de São Paulo. Boletim Paulista de Geografia. nº 44. Outubro de 1967. (p. 103 - 120).

 

POSADZY, I. Na trilha dos peregrinos: impressões de uma visita às colônias polonesas na América do Sul. Tradução de Mariano Kawka. Wydawnictwo Agape, Poznań, 2018.

 

POULOT, D. Um Ecossistema do Patrimônio. In: CARVALHO, C.S. de GRANATO, M. BEZERRA, R. Z; BENCHERTRIT, S. F. (Orgs). Um olhar Contemporâneo sobre a preservação do Patrimônio Cultural Material. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2008.

 

RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

 

SANTOS, A. R. dos.  Processo de dessacralização da morte e a instalação de cemitérios no Seridó, séculos XIX e XX.  Dissertação (Doutorado em História). Faculdade de História. Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, 2011.

 

TAVARES, D. K.; RIBEIRO, D. L.; BRAHM, J. P. S. Cemitério e Museu: Aproximações eletivas. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2019.

 

URBAIN, J-D. L'archipel des morts: le sentiment de la morte et les dérives de la mémoire dans les cimetièrs d'Occident. Paris, Éditions Payot/Rivales, 1998.

 

19 comentários:

  1. Por que existem igrejas antigas católica, que não tem cemitério nos fundos? E quando se tem, fica retirado do espaço da igreja

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    1. Olá, bom dia! O binômio IgrejaXCemitério é bastante comum na constituição das antigas colônias polonesas. Associados a outras construções materiais, davam vida às sociabilidades comunitárias. Os terrenos para a construção das igrejas e dos cemitérios eram, na sua maioria, doados. Sendo assim, era bastante comum que dividissem o mesmo pátio. Além disso, ser enterrado próximo à igreja também tinha a função simbólica do espaço sagrado. De todo modo, como você menciona, também é comum que os cemitérios se distanciem das igrejas, fiquem mais retirados, isso se deve a vários fatores: doação do terreno, questões sanitárias, escolhas comunitárias, distinção cultural dos espaços, entre outros.
      Agradeço seu comentário e sua participação!
      Prof. Alcimara.

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  2. Everton Luis Batili, bolsista da fundação araucária, pela UNESPAR de União da Vitória, curso de geografia

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    1. Olá Everton, obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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  3. Dentro do cemitério,porque os mausoléus ficam geralmente na área central do cemitério a as gavetas ficam nas laterais? Isso é um tipo de separação de classes ou um padrao dos cemiterios? Everton Luis Batili, bolsista da fundação araucária, pela UNESPAR de União da Vitória, curso de geografia.

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    1. Bom dia Everton,
      realmente a segregação espacial dentro do espaço cemitérial é visível e simbólica também. Lembremos que o mundo dos mortos é o espelho da sociedade dos vivos. Assim sendo, é comum e recorrente que a parte central, mais "valiosa", seja ocupada por mausoléus e túmulos de pessoas mais abastadas economicamente. Trata-se de uma separação bastante visível e que tem a ver também com o próprio crescimento do cemitério.
      Obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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  4. Primeiramente parabéns pelo seu trabalho!
    De fato os cemitérios poloneses, especialmente os mais antigos, tem muita riqueza de informações. No entanto o que observamos é um descaso com estes túmulos mais antigos, alguns por não ter mais familiares para cuidar e/ou por desinteresse mesmo, e que vão se degradando com o tempo. Como citado em seu texto “de que o cemitério é, além de tudo, uma instituição cultural”, pois nele pode se observar muito sobre uma comunidade. Qual seria o caminho para sensibilizar, o poder público, ou mesmo a comunidade para o cuidado e manutenção destes túmulos como um patrimônio Histórico e Cultural?

    Ana Joana Zimolong.

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    1. Professora Ana, querida!
      Que felicidade esse comentário e sua leitura.
      Concordo relamente contigo sobre o abandono dos túmulos nos cemitérios, por isso que defendo uma Educação Patrimonial, notadamente quando vinculada à uma identidade étnica, nesse caso, polonesa. Sua questão é muito importante e senvível, o poder público e a comunidade precisam se reconhecer responsáveis também pelo cemitério, não só pela igreja e pelos clubes. Embora espaço reservado para a morte, o cemitério abriga muito de nossa raíz genealógica, familiar e cultural. A Educação Básica pode muito contribuir para a desconstrução do pavor midiático que paira sobre o cemitério. As Associações, instituições religiosas, comunidade e poder público devem encontrar ressonâncias também nesse espaço. Identificar túmulos, reconstruir biografias, analisar trajetórias, são alguns exemplos.
      Cruz Machado é uma benção para se pensar sobre a simbologia cemiterial, espero que um dia possamos fazer um trabalho juntas sobre isso.
      obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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  5. Alcimara,
    Parabéns por sua pesquisa. Você já havia comentado comigo sobre as fontes e sua investigação. Fico feliz em poder ler seu artigo e conhecer um pouco mais sobre a temática, em particular, o diálogo que você estabelece com base nos imigrantes e com a cultura que eles trouxeram, bem como seus sentimentos em relação ao seu país de origem. Parabéns! Muito rico!

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    1. Prof. Márcia, querida!
      Que saudade e que felicidade seu comentário!
      Espero em breve revê-la para que possamos dar continuidade a esses diálogos que, contigo, são tão frutíferos e enriquecedores.
      obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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  6. Felipe Luiz Mokochi, bolsista fundação araucaria, Unespar de União da Vitoria, geografia
    Muito interessante a questao de considerar os cemitérios de origem polonesa no sul do Brasil, com identificação etnica, o que representa uma manifestação cultural, que remete e de certa forma ainda manter alguns elementos da cultura polonesa viva, principalmente para os descendentes como sendo lugar de significados, outrosim a aproximação daquele que ja partir e aquele q ainda vive, e que quando morrer por muitas vezes o maior desejo é ficar o mais próximo possível.

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    1. Bom dia Felipe!
      Exatamente isso, pena que a pandemia tem atrapalhado e impossibilitado nossos trabalhos de campo nesses lugares, há muito para se conhecer e discutir. Cemitérios são sim manifestações culturais no espaço e no campo simbólico.
      obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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  7. Prezada professora Alcimara, primeiramente, lhe parabenizo pela pesquisa e por este texto. A discussão que você propõe, embora bastante distinta do meu objeto de estudo, perpassa por noções e conceitos que eu também utilizo em meu trabalho, como a justa memória, do Paul Ricoeur, lugares de memória, do Nora, além da própria questão acerca de patrimônio, apenas a título de exemplificação. Bem, dito isto, fiquei pensando como, na realidade da sala de aula, sobretudo da educação básica, nós, professores, ainda enfrentamos uma série de obstáculos para abordarmos distintos assuntos, dentre eles a própria educação patrimonial. Além disso, temas como morte, cemitérios e afins, enfrentam resistência ainda hoje em nossa sociedade brasileira, são, em alguma medida, tabus mesmo. Diante disto, no que diz respeito a aplicabilidade prática destas reflexões, quais estratégias nós poderíamos adotar visando justamente extrapolar estas barreiras teórico-metodológico-práticas frente a abordagens como a supracitada?
    Muito obrigado!
    Marcone de Souza Guedes

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    1. Bom dia Marcone!
      Acredito que boa parte desse tabu relacionado ao cemitério é oriundo das concepções ocidentais acerca da morte alimentada pelo terror midático construído. Acrescentamos, certamente, o fato de que o cemitério, para muitos, é visto como a materialidade do luto. No entanto, se refletirmos a partir da perspectiva da memória, da simbologia, do patrimônio e até do turismo, podemos vislumbrá-lo com um olhar diferente. Fico feliz em sabe que dialogamos muito próximo conceitualmente, justa memória, lugares de memória e patrimônio são, de fato, conceitos centrais nas minhas abordagens. Conceber o cemitério como campo de pesquisa inclui a obrigação constante de defendê-lo frente aos olhares preconceituosos, normais e comuns nesse caso. Enquanto estratégias, penso que a principal seja a desconstrução midiática, desvinculação enquanto lugar de luto, apresentação enquanto campo simbólico e inclusão em roteiros guiados. Daí, já partimos para muito.
      obrigada por sua leitura e participação!
      Prof. Alcimara.

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    2. Cara professora Alcimara, concordo plenamente com você. As estratégias me parecem muito oportunas. Fiquei muito feliz em ler seu trabalho e conhecer um pouquinho de um tema até então desconhecido, embora, como dissemos, tenhamos algumas proximidades conceituais. Novamente, parabéns!

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  8. Excelente texto!!! Professora Alcimara ao ler o seu trabalho aqui exposto relembrei de uma experiência didática feita com os alunos, do sexto ano em uma comunidade rural que leciono (Santa Luzia - Caetité/BA). Estava planejando uma aula sobre o Egito quando tive a ideia de ministrá-la no cemitério da comunidade explorando a questão dos funerais, túmulos e vida após a morte para depois fazer o link com a sociedade egípcia. E posso confessar que foi uma experiência sensacional apresentar para os alunos o cemitério como um local de aprendizado e acima de tudo como um patrimônio material e imaterial.
    Deixo a proposta lançada para fazer em forma de oficina.
    Jumara

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    1. Bom dia querida Jumara!
      Agradeço muito por ler o texto e enviar sua experiência didática, interessante correlação com a sociedade egípcia.
      Realmente o cemitério é um espaço pedagógico, no entanto, sempre cabe uma análise da turma de alunos e suas particularidades antes da proposição do campo. Nunca damos conta de saber sobre as ansiedades e entendimentos dos nossos estudantes.
      Agradeço mesmo por partilhar conosco!
      Forte abraço,
      Prof. Alcimara

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    2. Bom dia querida Jumara!
      Agradeço muito por ler o texto e enviar sua experiência didática, interessante correlação com a sociedade egípcia.
      Realmente o cemitério é um espaço pedagógico, no entanto, sempre cabe uma análise da turma de alunos e suas particularidades antes da proposição do campo. Nunca damos conta de saber sobre as ansiedades e entendimentos dos nossos estudantes.
      Agradeço mesmo por partilhar conosco!
      Forte abraço,
      Prof. Alcimara

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  9. Alcimara, sua pesquisa nos apresenta tantas possibilidades de análise sobre a educação patrimonial. Espero que inspire outras pesquisadoras. Uma possibilidade de continuação seria narrar os símbolos femininos no cemitério, como parte da aprendizagem histórica. abraços

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